O jovem guitarrista Abner Felipe dos Santos Martins, aluno da EMESP Tom Jobim e bolsista dos grupos artísticos da Escola, participou do festival Jazz Lab do New England Conservatory, em Boston (EUA), no mês de junho, e compartilhou conosco a sua experiência.
“Quando recebi a confirmação da minha participação no Jazz Lab 2018 fiquei sem reação. Eu tinha a certeza que seria mais uma grande experiência e oportunidade na minha vida. Quando cheguei no aeroporto de Boston, nos Estados Unidos, a ficha caiu e não consegui conter as lágrimas. Não foi fácil chegar até ali e, naquele momento, eu tive a convicção de que vale a pena batalhar pela música, mesmo com todas as dificuldades. Ao chegar no New England Conservatory, fui recebido pelo professor Henrique Eisenmann, que prestou total assistência e atenção.
O primeiro dia do Jazz Lab foi muito importante para mim, pois foi o momento em que fiz a audição que definiu o ensemble (turma de prática de conjunto) e o curso semanal que eu viria integrar durante o festival. Tive o prazer de cair em turmas fantásticas. O segundo dia foi de adaptação e foi difícil por conta do meu nível de inglês que eu achava que era bom (de certa forma). Mesmo assim, todos os meus colegas me ajudaram muito, falando frases lentamente e tentando me ensinar tudo o que conseguiam. Para as aulas, busquei entender o conteúdo num contexto geral, por meio dos termos que eu entendia. Na maioria das aulas, essa técnica deu certo. Com o passar da semana, fui me adaptando melhor e consegui entender coisas importantíssimas.
Durante o festival, tive uma rotina de estudos intensa. No período da manhã acontecia o Encontro dos Guitarristas, onde eram realizadas trocas de experiências e conteúdos entre mestres e estudantes de guitarra. Numa dessas atividades tivemos a oportunidade de receber o grande mestre da guitarra e do free-jazz, Joe Morris. Esses encontros me trouxeram muito aprendizado sobre o instrumento. Depois dessas atividades aconteciam os ensaios de prática de conjunto. Ouso dizer que a prática de conjunto da qual fiz parte, que tinha como mestre Rick McLaughlin, era a melhor do festival, pelo nível altíssimo de musicalidade dos músicos. A cada dia de ensaio pude adquirir muita maturidade coletiva e grandes lições sobre acompanhamento e improvisação.
Também tive aulas sobre temas específicos, como Desenvolvendo seu Jazz Ninja Interior, A Música de Duke Ellington, Rítmica, Loops Vocais e Preparação Para Gravações de Audições. Todas as aulas foram excelentes, mas destaco Loops Vocais e Desenvolvendo seu Jazz Ninja Interior, que foram extremamente interessantes e trouxeram bastante aprendizado. A hora do almoço também era um momento para conhecer pessoas e trocar experiências. Fiz muitas amizades com alunos e professores, pude conversar bastante sobre música e, principalmente, sobre álbuns e artistas. No período da tarde aconteciam as aulas fantásticas de Composição Criativa, com o mestre Henrique Eisenmann. Nessas aulas, pudemos aprender um método diferente de criar uma composição por dia. Tais métodos são fantásticos e vão me ajudar muito a desenvolver a minha parte criativa.
Após as aulas de composição, tínhamos masterclasses diárias com grandes artistas/professores convidados, como Ken Schaphorst, Tim Lienhard, Luís Bonilla, Joe Morris Jason Palmer e Ehud Ettun. Quando não tínhamos aula particular de instrumento, podíamos optar em ir para a jam-session da faculdade ou usar o tempo de uma forma livre. Durante a semana, eu tive duas aulas incríveis com o guitarrista brasileiro, Caio Afiune; duas aulas com o guitarrista americano, Luca Ferrara; fui em duas jam-sessions e tive uma das maiores experiências do festival: pude tocar por alguns minutos com o Henrique Eisenmann (pianista extraordinário), com Michael Mayo (grande cantor americano) e Caio Afiune (sensacional guitarrista). Assim como na hora do almoço, na hora do jantar também aproveitava para conhecer outros alunos e professores. Em um dos jantares pude ter uma conversa fantástica com o professor Caio. Tal conversa trouxe grandes reflexões, aprendizados e despertou muitos sonhos. No fim de cada dia acontecia um grande concerto em algum teatro do conservatório. O artista de cada noite era o mesmo que viera fazer a masterclass durante o dia. Todos os concertos foram incríveis, mas destaco os concertos de Jason Palmer e Ehud Ettun, que foram muito impactantes.
No sábado, tivemos o grande concerto final de todas práticas de conjunto no Jordan Hall, que é considerada uma das salas de concerto mais importantes do mundo. Tal concerto foi emocionante e mostrou os grandes resultados que as aulas e vivências do festival puderam trazer para cada aluno. Subir ao palco do Jordan Hall foi uma experiência inenarrável. Eu nunca pensei que viria ter o privilégio e oportunidade de tocar em um lugar sagrado como aquele. Quando o concerto acabou e o festival se encerrou, o que restou foram os grandes aprendizados e boas recordações. Depois do festival, ainda pude dar um passeio por Boston, que é uma cidade muito linda. Concluo que o Jazz Lab 2018 foi o melhor presente que pude receber na vida até então. Em uma semana, tive o privilégio de estudar com grandes mestres e conviver com grandes músicos que se tornaram grandes amigos. Pude prestigiar concertos memoráveis, enfim, respirei muita música, adquiri bastante conhecimento, realizei sonhos e despertei outros.”
Abner Felipe Dos Santos Martins
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