Eduardo Hiroshi e Caio Csizmar, alunos dos professores Rodrigo Lima e Tiago Costa, no Curso de Composição 4º Ciclo, tiveram peças autorais selecionadas pelo festival brasileiro Escuta Aqui. Hiroshi concorreu com a peça para flauta solo Six walls by the air window e Csizmar com a composição para violino e vibrafone Parassoneiroi.
As obras serão trabalhadas durante o festival por meio de palestras e apresentadas nos concertos finais. A primeira edição do festival online aconteceu em setembro e a próxima será realizada entre os dias 7 e 14 de novembro.
Segundo Hiroshi, a peça Six walls by the air window foi concebida por meio da exploração dos aspectos rítmicos-melódicos que a flauta contemporânea pode suscitar em conjunção com a técnica de beat box e de sonoridades da contemporaneidade que a técnica proporciona.
“Através da troca de experiências e ensinamentos com intérprete, amigo e flautista Mateus Messias, ao qual a peça foi dedicada, pude desenvolver o uso de técnicas da flauta contemporânea e sonoridades das mais variadas vertentes de música da contemporaneidade em conjunção ao próprio discurso do repertório para flauta”, explica o jovem compositor. Hiroshi revela ainda que buscou um sincretismo inter-estético e que pudesse ‘entre-meandrar’ nos limiares do que se expecta, estético e tecnicamente, como música contemporânea e do próprio repertório para flauta contemporânea.
Csizmar explica que o título de sua composição Panassoneiroi é a amálgama de dois diferentes elementos: a parassonia (distúrbios do sono) e oneiroi (a personificação dos sonhos na mitologia grega). “A escolha de tal título deu-se pela ideia programática da peça, onde as fases do surgimento de um transtorno mental são representadas de maneira metafórica pela narrativa surrealista de natureza onírica”, conta.
Essa história é delineada pelos nomes dos movimentos. O primeiro, Cronostase Introdutória ao Onirismo, representa o sono leve onde, de maneira sutil, a sensação de permanência no espaço e no tempo é volátil, assim como a concretude e a lógica são. Neste movimento, o tempo dos eventos sonoros se dilata e se comprime por meio do desemaranhamento de ideias com a alternância entre diferentes métricas para que se estabeleça, assim, a ideia da cronostase – da repetição de uma mesma ação com uma duração supostamente igual, mas que na realidade ocorre diferentemente sob uma perspectiva puramente fenomenológica.
O segundo movimento Instauração e Metástase da Onirodinia representa a aparição do pesadelo em um distúrbio de sono no momento de um primeiro surto psicótico. É o momento onde, no sonho, é criada e instaurada a personalidade turbulenta na mente do indivíduo. A ideia é representada musicalmente por um conflito de vozes na polifonia, dinâmicas maiores e técnicas como sul ponticello no violino.
Já o terceiro movimento Esfácelo via Oneirophrenia é o estágio final, onde a sequela do pesadelo/surto e da parassonia causa no individuo a perda de contato com a realidade e ele se torna, como Oneiroi, o ser que é a personificação do sonho, ou seja, um produto de sua mente. Musicalmente, o andamento lento, as pausas e os gestos procuram demonstrar as incertezas frequentes, o auto questionamento e a ansiedade.
Por Marina Panham
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