A pianista francesa Martine Joste, uma das mais expressivas representantes do ensino e interpretação da música contemporânea, veio ao Brasil para apresentar dois concertos no Festival Música Nova, junto à Orquestra Sinfônica de Santos. No dia 3 de setembro, Martine esteve na EMESP para ministrar uma master class com os alunos de piano da Escola.
Em entrevista ao departamento de comunicação da EMESP, falou sobre o intercâmbio franco-brasileiro, música contemporânea e do contato com os músicos profissionais e estudantes brasileiros.
Martine, você já esteve antes no Brasil. Quando foi?
Essa é a quarta vez que venho ao Brasil. A primeira vez foi em 1995 e a última foi na reeleição do presidente Lula, em 2006, quando participei da comemoração na Avenida Paulista. Na ocasião, estive aqui para ministrar master classes na Faculdade Santa Marcelina e para fazer um concerto.
O que você achou da master class na Tom Jobim – EMESP?
Fiquei agradavelmente surpresa com o nível dos alunos. Eles possuem um senso musical muito bom, amam o que fazem e executam as obras com muita correção e coerência.
Este é o ano da França no Brasil. Qual a importância desse intercâmbio de culturas?
Irei apresentar duas peças francesas no Festival Música Nova, junto a Orquestra Sinfônica de Santos. No mesmo programa a Orquestra irá interpretar obras de compositores brasileiros. É sempre interessante termos essa relação e quanto mais a temos, maior é a troca.
Você conhece os compositores brasileiros?
Encontrei-me dessa vez com o Gilberto Mendes (compositor santista), que é o diretor do Festival Música Nova. No Festival irei interpretar uma obra de meu marido, Fernand Vandenbogaerde, que foi colega de Gilberto Mendes em Darmstadt, na Alemanha, onde estudaram juntos. Gilberto inclusive prometeu me entregar uma foto dos dois de quando Fernand participou do Festival Música Nova, em 1988.
Qual a importância de um evento no Brasil devotado à música contemporânea como o Festival Música Nova?
Conheço esse Festival há bastante tempo. Desde que meu marido veio se apresentar aqui, a programação do evento é muito interessante. Imagino que haja um público para isso, pois, das outras vezes que estive no Brasil, mesmo que não tenha sido para participar do Festival Música Nova, interpretei obras contemporâneas e sempre tive plateias entusiasmadas em meus concertos. O que acho importante é que haja sempre esse tipo de evento, o ano todo, e não apenas em um determinado momento.
Você acredita que a música contemporânea está em evidência no mundo neste momento?
Não tenho conhecimento para falar sobre a situação da música contemporânea no Brasil, mas na França, ela não está em evidência. Temos muitos compositores, mas há vinte anos havia mais criatividade. Os concertos são bem frequentados, mas por um público formado por especialistas.
Na master class na Tom Jobim – EMESP você falou de Camille Saint-Saëns e de outros compositores de épocas passadas. É importante para os músicos conhecer esse repertório também?
É preciso haver uma mescla. Quando ensino, falo sobre a música de repertório aliada à música contemporânea e, quando posso escolher os programas que executo, faço sempre essa mescla. Creio que não deva haver um gueto para a música de uma determinada época. É muito interessante notar também que há uma afinidade entre as obras compostas em diferentes épocas.
Você crê que existam muitas diferenças entre a música clássica e a música contemporânea?
Mesmo que sejam utilizados equipamentos eletrônicos ou que haja uma evolução dos instrumentos, do modo de expressão e da linguagem, que se torna mais abstrata ou mesmo o contrário, com compositores que fazem um resgate de melodias e tonalidades, o senso musical é sempre único, sempre o mesmo.
Na master class você sentiu que existe um ponto em comum que precisa ser desenvolvido pelos alunos?
Não sei se os estudantes pretendem trilhar um caminho profissional ou amador, mas penso que lhes falta um pouco de solidez técnica, um trabalho de precisão. Eles possuem um ótimo senso musical, mas precisam elevar o nível técnico.
Qual seria o seu conselho a estes jovens músicos?
Eu diria a eles para buscarem ter mais controle e consciência na execução das obras. Eles devem ser mais exigentes com seus trabalhos pessoais, com o estudo das partituras.
Como foi o contato com os músicos brasileiros, tanto da EMESP como da Orquestra de Santos?
Todos demonstraram um enorme interesse, boa vontade e foram muito gentis. Quando exigimos coisas inabituais aos músicos franceses eles se queixam bastante e possuem grande resistência em desenvolver algo que não querem fazer. Aqui, ao contrário, todos são muito participativos. Se existe uma pequena lacuna técnica em sua execução, eles compensam com uma enorme força de vontade.
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